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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

MELATONINA E DOENÇAS NEUROLÓGICAS

Por Dr. Mario F. P. Peres
As mudanças comportamentais que ocorrem de acordo com o ritmo de 24 horas nos seres vivos é uma das características mais proeminentes da vida no planeta Terra. O sistema nervoso, tanto em organismos simples quanto complexos, se desenvolveu ao longo dos milênios para atender às demandas de variações tempo dependentes relacionadas ao ciclo claro-escuro. A glândula pineal e a melatonina têm importância fundamental nos mecanismos de adaptação do organismo ao meio ambiente, cuja insuficiência pode estar relacionada com a gênese de diversos processos patológicos, incluindo as doenças neurológicas. A melatonina age como um transdutor neuroendócrino, transformando as informações externas referentes ao ciclo noite-dia em sinais bioquímicos que modulam a organização tempo-dependente de funções autonômicas, neuroendócrinas e comportamentais (Arendt, 2003).
A melatonina (N-acetil-metoxitriptamina) foi caracterizada em 1958, é uma indoleamina conhecida hoje como o maior produto secretório da glândula pineal, que é um órgão de linha média no cérebro, de até 8mm, localizado abaixo do esplênio do corpo caloso.
A regulação da secreção de melatonina na pineal é singular, diferente de outras glândulas, ela não é influenciada por outros hormônios secretados por outras glândulas ou células, e sim, o grande regulador da produção de melatonina é o ciclo claro/escuro, dia/noite ambiental, sendo um órgão final do sistema visual. A melatonina é produzida somente durante a noite, a luz tem efeito paradoxal na sua produção, estimula quando é recebida de dia e inibe à noite. O núcleo supraquiasmático no hipotálamo (que constitue o relógio biológico) recebe a informação luminosa via axônios do trato retino-hipotalâmico e através da norepinefrina, via receptores beta-adrenérgicos, estimula a produção de melatonina no pinealócito.
A secreção de melatonina diminui com a idade, portanto uma série de eventos biológicos ligados ao envelhecer podem ser relacionados com esta diminuição. Outros aspectos importantes da melatonina incluem o seu efeito oncostático, sua interação com o sistema imune, gonadotrófico, seu potente efeito antioxidante, sua modulação do sistema dopaminérico, serotoninérgico, sua potencialização da analgesia opióide e da neurotransmissão de GABA, sua implicação na produção de óxido nítrico e controle neurovascular.
Várias são as doenças do ritmo biológico, também chamadas de dissincronoses. Podem ser de origem externa ou ambiental, devido ao estilo de vida do indivíduo, tal como na síndrome dos trabalhadores em turno trocado, no jet lag (distúrbio secundário ao deslocamento rápido de fuso horário) e na mal-adaptação à mudança do horário de verão/inverno. A síndrome do atraso e avanço da fase de sono, os distúrbios de ritmo em cegos, e a síndrome de Smith Magenis têm origem endógena. Outras doenças como a depressão sazonal, depressão bipolar, esclerose múltipla, síndrome pré-menstrual, enxaqueca e cefaléia em salvas apresentam marcado componente cronobiológico, com uma variação nítida de seus sinais e sintomas de acordo com ritmos circadianos ou circanuais .
Diversas doenças neurológicas, além naturalmente dos distúrbios de sono, sofrem influência clínica relevante dos ritmos biológicos, tais como as cefaléias, epilepsia, demências, doenças neurovasculares, extrapiramidais, neuromusculares, desmielinizantes e neoplasias.
Algumas cefaléias apresentam nítida ritmicidade circadiana como a cefaléia hípnica e a cefaléia em salvas, outras com variação circanual, a cefaléia em salvas e a enxaqueca cíclica, e por último, a enxaqueca menstrual com ritmicidade mensal.
Muitos efeitos biológicos da melatonina a caracterizam como uma potencial candidata a fisiopatologia e tratamento da enxaqueca. Seus efeitos são de potencializar o GABA, inibir o glutamato, varrer óxido nítrico, modular ação da serotonina, dopamina e analgesia opióide, agir como anti-inflamatório, além de ter estrutura molecular à indometacina, molécula de muito interesse na área das cefaléias. Recentemente, mostramos que a melatonina 3mg foi eficaz na prevenção da enxaqueca.
Na enxaqueca, níveis diminuídos de melatonina e alteração na sua curva de secreção foram detectados. Clinicamente, crises podem ocorrer à noite, mudanças de ritmo de sono desencadeiam crises de enxaqueca, pacientes com enxaqueca dormem menos, têm latência maior, e mais despertares noturnos. Em estudo por nós realizado, foi observado em pacientes com enxaqueca crônica alteração dos níveis de melatonina com avanço do seu pico, níveis menores em insônia, apontando para uma disfunção cronobiológica.
Outro estudo em 200 pacientes com enxaqueca episódica e crônica revelou que 93 pacientes (46,5%) relataram crises após mudarem seu horário de sono, 28 pacientes (14%) relataram trabalho em turno trocado, 86% com piora da cefaléia. Oitenta e seis pacientes (43%) relataram frequentes viagens cruzando fusos horários, 79% com piora da cefaléia.
Cefaléia após trabalho em turno trocado correlacionou com fadiga e queixas de memória. Cefaléia após viagem cruzando fusos horários correlacionoou com queixas de concentração e memória. A fase de sono (22:22 hs +- 01:17) esteve significativamente atrasada (22:46 hs +- 01:20 hs) p<0,001,>

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