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quinta-feira, 21 de julho de 2011

A Neurociência da Esquizofrenia

Para os cientistas, um dos maiores desafios foi buscar um entendimento de como as alterações cerebrais se processam com o amadurecimento do cérebro desde o nascimento até o aparecimento da esquizofrenia

Por Rodrigo A. Bressan

Desde o período da gestação até a vida adulta, o cérebro está em constante desenvolvimento. Ao longo dos anos, ele se transforma e passa por várias mudanças chamadas de neurodesenvolvimento. No processo de amadurecimento, o cérebro vai tomando forma e varia de pessoa para pessoa devido a fatores genéticos e ambientais. Várias coisas podem induzir às alterações no neurodesenvolvimento, determinando mudanças no funcionamento dos neurônios e na forma como se conectam. Este processo é tecnicamente chamado de "arborização neuronal". Estudos recentes mostram que pequenos problemas durante a fase de gestação e parto podem tornar as pessoas mais vulneráveis a desenvolver a esquizofrenia no futuro. Estas alterações levam a mudanças estruturais no cérebro e ao aumento da liberação de dopamina.


COMO APARECE


Em função desse neurodesenvolvimento diferenciado, as pessoas se tornam mais vulneráveis aos efeitos desorganizadores de fatores tais como o abuso de drogas, eventos traumáticos e situações muito estressantes que podem desencadear o início da esquizofrenia. O estresse e as substâncias como a maconha e a cocaína também aumentam a liberação de dopamina. Em indivíduos que não são vulneráveis, essas substâncias não causam grandes problemas. Já em pessoas com alterações do neurodesenvolvimento e predisposição genética, podem desencadear um quadro agudo de esquizofrenia.

Depois que a doença aparece, a ocorrência de novas crises e o tempo decorrido sem tratamento determinam a progressão dessas alterações na estrutura cerebral e em seu funcionamento, que decorrem os chamados processos neurodegenerativos.

EM BUSCA DE RESPOSTAS

A esquizofrenia é a doença mental mais estudada no mundo. Até pouco tempo não se sabia o porquê do aparecimento dos delírios durante as crises. No final do século XIX, achava-se que haveria processos degenerativos importantes no cérebro dos portadores de esquizofrenia. No entanto, os estudos post-mortem não identificaram alterações cerebrais que fossem características da doença. Somente na década de 1970, os estudos de neuroimagem pela tomografia computadorizada e depois da ressonância magnética começaram a mostrar alterações sutis da anatomia cerebral.

O avanço veio na década de 1990, com os estudos que avaliavam o funcionamento cerebral por meio da ressonância magnética (RM) funcional e transmissão química cerebral pela neuroimagem molecular, com a tomografia por PET e a tomografia computadorizada por SPECT.

O QUE ACONTECE NO CÉREBRO

Os cientistas se perguntavam como ocorre a alucinação auditiva. Por meio da RM funcional foi possível observar que acontece ativação de áreas cerebrais ligadas à audição e à linguagem, tais como córtex pré-frontal, córtex temporal e regiões límbicas. Assim, apesar de as vozes não serem reais para as pessoas ao redor, elas existem para o portador de esquizofrenia, pois são geradas pelo cérebro. É por isso que os portadores de esquizofrenia percebem as vozes como estímulos reais

A transmissão de informação entre as células do cérebro acontece por meio de substâncias químicas, chamadas neurotransmissores. Assim, as cores que vemos, os sons, o paladar, os odores, o tato, bem como o que pensamos e sentimos são informações transmitidas por substâncias químicas dentro do cérebro.

Com o surgimento de técnicas especiais de neuroimagem pode-se investigar os neurotransmissores em exames mais sofisticados como tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada por emissão de fótons únicos (SPECT).

As pesquisas mostraram que os portadores de esquizofrenia apresentam um aumento da dopamina cerebral quando aparecem os sintomas, como os delírios, por exemplo, quando comparados a voluntários sadios.

A dopamina é um neurotransmissor que tem a função de determinar a importância que damos às coisas que percebemos e pensamos, processo chamado de "saliência". Portanto, o aumento da função da dopamina em determinadas regiões do cérebro leva a uma atribuição de importância (saliência) exagerada às ideias.

OS MEDICAMENTOS ANTIPSICÓTICOS DIMINUEM A AÇÃO DA DOPAMINA E REDUZEM A INTENSIDADE DOS SINTOMAS

MEDICAMENTOS

A partir da medicação há mudanças químicas no cérebro que equilibram os neurotransmissores, o que permite que o portador comece a perceber que as vozes não são externas, mas produzidas "dentro de sua cabeça". Ao diminuir a importância das vozes, é possível para o portador se concentrar em outras coisas mais relevantes para a sua vida e construir com os profissionais que o atendem um projeto terapêutico que leve em consideração todos os aspectos significativos para sua recuperação.

Os medicamentos antipsicóticos diminuem a ação aumentada da dopamina e, desta forma, reduzem a intensidade dos sintomas. Ou seja, com a medicação, as impressões e certezas ficam menos absolutas e mais relativas. Depois que os portadores tomam os remédios, a importância das ideias delirantes diminui progressivamente. Com o tempo, outros fatos importantes da vida, tais como estudar, namorar e conviver com os amigos passam a ser mais relevantes, enquanto o delírio perde o foco.


REFERÊNCIAS

BRESSAN RA, ELKIS H. Esquizofrenia Refratária. São Paulo: Segmento Farma, 2007.
MALTA SM, ATTUX C, BRESSAN RA. Esquizofrenia - integração clínico-tera­pêutica. São Paulo: Ateneu, 2006
BRESSAN RA, BIGLIANI V, PILOWSKY LS. "Neuroimaging of D2 dopamine receptors in schizophrenia". In: Atualização em Psiquiatria II. Ed: BRESSAN RA, MARI JJ, MERCADANTE M, ROHDE LA, MIGUEL ECMF. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
ARARIPE Neto AG, BRESSAN RA, BUSATTO G. "Fisiopatologia da esquizo­frenia: aspectos atuais". Rev Psiquiatria Clínica 34(2): 198-203, 2007
BRESSAN RA, SHIH MC, HOEXTER MQ, LACERDA AL. "Can molecular imaging techniques identify biomarkers for neuropsychiatric disorders?" Rev Bras Psiquiatria 29(2):102-4, 2007.
JASPERS, K. General psychopathology


Fonte: Revista psiqué - Portal Ciência & Vida

1 comentários:

maria 13 de agosto de 2011 às 11:44  

muito interessante esta pesquisa e importante tambem parabens aos pesquisadores e graças a deus mais perto da cura se deus quizer continue assim maria

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