ESQUIZOFRENIA
Marcela Sevidanes Nogueira Barreto
Núccia Rogéria Gaigher Magalhães
O surto psicótico refere-se ao momento de perturbação mental que provoca no sofredor mental o rompimento com a realidade, interferindo no processo cognitivo, emocional e social. O surto psicótico manifesta-se com alucinações, delírios e estados de consciência alterados, provocando grande confusão mental e comportamentos agressivos ou inadequados por não haver conexão entre pensamento e emoção. O declínio psicossocial surge como conseqüência quase inevitável após o surto e o paciente tende a uma retração interpessoal cada vez maior.
A esta severa doença o médico e psiquiatra alemão, Emil Kraepelin em 1893 denominou dementia praecox na 4ª edição de seu Tratado de Psiquiatria, diferenciando os pacientes com demência precoce daqueles atingidos pela psicose maníaco depressiva. Segundo Holmes (1997), a demência precoce seria a deterioração intelectual progressiva e irreversível de início precoce.
Em 1908 Eugen Bleuler, psiquiatra suíço, propõe nova forma de entendimento desta doença e em 1911 publica em seu livro o aperfeiçoamento deste conceito substituindo demência precoce pelo termo esquizofrenia (grego schizein: separar; phren: mente, ânimo) que significa cisão da mente, dos pensamentos e sentimentos, comprometendo o comportamento sem ocorrer necessariamente a degradação mental irrecuperável (HOLMES, 1997).
Os conceitos de Kraepelin e Bleuler serviram de base para novas pesquisas, investigações e conseqüente expansão dos conceitos deste transtorno mental com descrição mais elaborada dos sintomas. David Holmes (1997) coloca que ambos acreditavam que o transtorno tinha uma base fisiológica, porém Bleuler também acreditava que os sintomas poderiam ser influenciados por uma base psicológica: "Experiências e eventos psíquicos podem liberar os sintomas, mas não a doença.”
De acordo, com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID 10), “os transtornos esquizofrênicos, são caracterizados em geral, por distorções do pensamento e da percepção”.
Usualmente, o indivíduo com esquizofrenia mantém clara sua consciência e sua capacidade intelectual. A porta de entrada na psicose esquizofrênica é constituída por uma organização caracterial da personalidade, na qual já se adivinham os traços que, ao se agravarem, se tornarão “esquizofrênicos”.
A acentuação das posições de inibição e de rigidez do caráter esquizofrênico conduz a uma série de modificações intra e interpessoais. É antes de tudo, o debilitamento da atividade, que se caracteriza pela “perda de rapidez” do aluno que era bom, seu desinteresse, a incúria, o abandono do trabalho ou as trocas repetidas de emprego. É também a modificação da afetividade. O indivíduo retrai sobre si mesmo, parece indiferente e desatento às alegrias e às tristezas. A hostilidade contra a família é constante. As modificações de caráter chocam o ambiente, pela mudança de um indivíduo que, até então, era taciturno e passivo, e que passa a afirmar sua agressividade opondo-se a tudo e a todos. A família tem então papel importante no processo de reabilitação e reintegração social do portador de esquizofrenia; a principal rede de apoio do portador são família e amigos.
As pessoas que vivem um significativo espaço de tempo durante um estado patológico de ansiedade, podem vir a desenvolver uma patologia muito conhecida da atualidade, que é o "estresse". Segundo Holmes (1997), a resposta de estresse tem dois componentes, um psicológico e outro fisiológico; o primeiro envolve emoções como ansiedade e tensão o segundo envolve mudanças corporais como freqüência cardíaca aumentada, pressão sangüínea e tensão muscular que preparam o indivíduo para uma ação física – lutar ou fugir.
O estresse não provoca a esquizofrenia, mas pode antecipar sua manifestação ou agravar seus sintomas. A intervenção da família do portador pode ajudar a reduzir o impacto dos elementos estressores que costumam servir como desencadeadores de recaídas.
Araújo (1999) citado por EY et al. (1999), afirma que ao eleger o trabalho como categoria analítica, compreende-se o trabalho como sofrimento e de adoecimento mental, tanto quanto outras esferas de construção do sujeito com a infância, ou a família. Desta forma, compreende-se que a vida dos homens embora não se reduza ao trabalho, também não pode ser compreendida na sua ausência.
Segundo Silva Filho (1993) citado por EY et al. (1999), “o trabalho, portanto, comporta relações de identificação, na medida em que se inscrevem marcas na imagem de si e do mundo, que são internalizadas como pertencentes àquele sujeito.”
Zanetti (2007) citado por EY et al. (1999), afirma que cada grupo social define a esquizofrenia de acordo com seus conhecimentos, crenças e ações específicas. A família tem um lugar e uma função central na vida dos portadores de esquizofrenia. A confirmação do diagnóstico e o início da doença constituem alguns dos fatores que geram inúmeras mudanças no contexto familiar. Durante o surto psicótico, é completamente impossível pensar racionalmente. O indivíduo não consegue estabelecer premissas válidas, nem encadear logicamente o raciocínio. Parte de idéias absurdas e chega a conclusões igualmente absurdas, por um caminho confuso e irracional.
Quando a família descobre qual é a enfermidade, em geral lhe falta saber seu significado para ter noção do que de fato está ocorrendo. Ela não tem informação sobre o que sejam as psicoses e resiste em acreditar que este seja o problema enfrentado pelo paciente. Surgem os estereótipos e muitas dúvidas sobre a possibilidade e as formas de controlar a situação e também a respeito de qual seja o tratamento mais adequado.
Este indivíduo que sofre pode estar perfeitamente adaptado, continuar respondendo todas as expectativas sociais e cumprir todas as suas responsabilidades. Ao mesmo tempo, pode-se encontrar um outro indivíduo que, mesmo sendo considerado socialmente desadaptado, excêntrico, diferente, não vivencia neste momento de sua vida, nenhum sofrimento ou mal-estar relevante. O indivíduo consegue lidar com suas aflições intensas encontrando modos de produção que canalizam este mal-estar de forma produtiva e criativa.
Assim, embora o sofrimento psicológico possa levar a desadaptação social e esta possa determinar uma ordem de distúrbio psíquico, não se pode sempre, estabelecer uma relação de causa e efeito entre ambos. O indivíduo irá necessitar do apoio do grupo, no sentido de suporte e facilitação da compreensão dos conteúdos internos que lhe causam o transtorno, o que poderá levá-lo a uma reorganização pessoal quanto a valores, projetos de vida, aprender a conviver com perdas, frustrações e a descobrir outras fontes de gratificação na sua relação com o mundo.
· CAETANO, Dorgival. Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. p.88-34.
· HOLMES, David S. Psicologia dos Transtornos Mentais. 2ª ed. Porto Alegre: ARTMED S.A., 2001.
· EY, Henry; BERNARD, P.; BRISSET, C. Manual de Psiquiatria. Paris: Masson Editeur, 1999.
· SCAZUFCA, M. Abordagem Familiar em Esquizofrenia. Revista Brasileira de Psiquiatria; [s. l.], [s. n], 2000; 22(1): 1-50.
· ANGERAMI, Valdemar Augusto; CAMON. Psicologia da Saúde. São Paulo: Pioneira, 2000.
· GAIARSA. José Ângelo. A família de que se fala e a família de que se sofre: O livro negro da família, do amor e do sexo. São Paulo: Agora, 1986.
· www.geocities.com/mentalAcesso em 21/06 as 14:30 h.
· http://www.psiqweb.com.br/Acesso em 22/06 as 09:30 h.
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